sexta-feira, 3 de outubro de 2008



“O” QUADRO
Clarice Giuberti Bathomarco


Era uma manha de verão, Jean Baptiste Debret observava a linda paisagem vista da sua janela. Dali ele via as mais belas praias e construções do Rio de Janeiro. E foi daquela janela que ele começou a viajar no seu passado. Lembrou de 14 anos atrás, quando desembarcou no Brasil junto com a família real. Ele pensava que naquela época deixar sua cidade, Paris, para vir para cá seria bom.
Por isso, chegou no Brasil cheio de entusiasmo. Em 1816, por fazer parte da Missão Artística Francesa, fundou no Rio de Janeiro uma academia de Artes e Ofícios, que mais tarde virou Academia Imperial de Belas Artes. Nessa mesma academia ele lecionou pintura.
Porém, o tempo foi passando e ele começou ficar exausto de tudo. E chegou certo dia em que compartilhou tudo isso com um amigo da Missão.
- Acho que meu tempo de ficar no Brasil já se esgotou – disse Debret
- Nossa! Mas o Brasil é um lugar tão lindo. É uma fonte de inspiração.
- Isso é verdade. O Brasil tem paisagens maravilhosas, mas quero pintar coisas diferentes. Esse país já está como um lugar normal para mim. O que mais quero agora é voltar para minha Paris, lá será melhor para mim.
Eles ficaram conversando por um tempo. O amigo de Debret realmente não queria vê-lo tão desentusiasmado como ele estava. Ele queria que Debret fosse para Paris com um grande marco do Brasil no seu coração. E com isso teve uma idéia e resolveu conversar com Debret:
- Amigo, achei um motivo para você ficar no Brasil.
- Obrigado amigo, mas acho isso meio difícil – disse Debret desentusiasmado.
- Bom você realmente vai gostar. Eu já acertei tudo com a Missão Artística. Você terá como último trabalho ir para Mata Atlântica fechada e ficar dois meses lá com uma aldeia indígena.
- Depois poderei voltar para Paris?
- Poderá sim.
Debret não gostou muito da idéia, ele queria mesmo era voltar para França, mas não demonstrou isso para o amigo. E como depois desse acontecimento ele poderia ir para sua casa resolveu aceitar a proposta do amigo.
Chegou na mata bem cedo e os índios já estavam todos acordados. A primeira cena que Debret viu foi os índios se pintando, uma índia amamentando, crianças brincando e os outros fazendo comidas e seus afazeres. Quando os índios viram Debret foram todos dá atenção para ele. Ele foi muito bem recepcionado.
Os dias foram se passando e ele já estava acostumado e admirado com a vida daquele povo. Já se sentia parte da família. Fazia tudo que os índios faziam. Debret não via o tempo passar, esqueceu da sua vida antiga. Parecia que ele tinha nascido de novo, era outra pessoa, tinha se renovado. Mas o tempo passou, passaram- se os dois meses propostos para ficar ali. Ele gostou tanto daquele lugar, povo e cultura que resolveu ficar mais um pouco.
Porém chegou uma hora que ele tinha que ir embora, pois tinha uma vida fora daquele lugar e coisas para fazer. Ele iria embora, mas jamais esqueceria o tempo que passou ali. E quando ele realmente estava indo embora de manhã cedo percebeu que não havia pintado nenhum quadro. Quando ele olhou para aquele lugar viu a mesma cena que viu quando chegou na aldeia. Logo veio a idéia de pintar aquela cena, e foi isso que fez. Era uma oca com animais, crianças brincando, índios sendo pintados, uma índia amamentando, homens indo caçar e algumas índias cuidando dos filhos e fazendo a comida. Aquela cena representava muito bem a vida dos índios e o que eles fizeram naqueles meses.
Debret acabou de pintar o quadro e recebeu uma surpresa dos índios: uma comemoração para ele. Os índios gostaram muito de Debret. Depois daquela festa ele foi para sua casa em Paris. Ele partiu muito feliz e como o amigo falou: “com um grande marco do Brasil na sua vida”.
Em Paris continuou sua vida. Um bom tempo depois seu filho perguntou-lhe a historia daquele quadro e Debret contou. E ainda acrescentou:
- Esse é para mim o mais importante e mais belo quadro que eu pintei.
- Realmente é lindo. Mas pai, por ser tão lindo ele passou em poucas exposições e ainda não foi vendido!
- Eu tenho certo ciúme desse quadro. Já me ofereceram muito dinheiro por ele, mas nunca aceitei.
- Certo. É por isso que esse quadro é o único que o senhor tem aqui em nossa casa!
- Exatamente. Esse quadro é muito significativo para mim. Ele me faz lembrar os tempos que fiquei naquela aldeia, minha melhor experiência! Ele é “o” quadro.




Esse é o meu conto da imagem. Um texto bem diferente diferente do que tenho postado aqui.

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